O FC Porto chegou à liderança do campeonato nacional da liga ZonSagres (2010/2011) fruto (para além dos desaires alheios) da vitória categórica frente ao Beira-Mar, por três golos sem resposta.
Este FC Porto 2010/2011 da era André Villas-Boas tem, para já, uma marca e uma identidade que importa reconhecer: frieza, controle emocional, disciplina táctica…
Esta é para já a referência e imagem do FCPorto deste novo ciclo.
E foi esta identidade e filosofia de jogo que marcaram o arranque oficial da época (vitória na Supertaça Cândido Oliveira), bem como os dois primeiros jogos da Liga 2010/2011, mesmo com as dificuldades sentidas na Figueira da Foz.
Apesar da expressão do resultado frente ao Beira-Mar (3-0), apesar do domínio conseguido e demonstrado (se não na totalidade pelo menos na globalidade), reconheça-se que o FCPorto demonstrou um futebol praticado que também resulta de outros factores para além da sua organização táctica, das características técnicas e momentos de forma de alguns dos seus jogadores (Moutinho, Belluschi, Falcao, Fernando, Álvaro Pereira), do factor casa, do controle emocional, da superioridade do plantel e da diferença estrutural entre os dois clubes.
Para fundamentar esta realidade façamos uma breve análise à forma como o Beira-Mar se apresentou, neste domingo, no Dragão.
Apresentando-se num esquema 4x2x3x1, a equipa de Aveiro teve o mérito de encarar o jogo sem receios, não reduzindo a sua prestação competitiva a meros rasgos defensivos, nem apenas explorando o contra-ataque.
O Beira-mar jogou aberto, ocupando o campo todo, entrou muito bem na partida, criando, inclusive, algumas oportunidades de golo (estatisticamente, não são muitas as equipas comparáveis ao Beira-mar que efectuam oito remates à baliza de Helton e conquistam quatro cantos). Com o decorrer do jogo a equipa aveirense foi perdendo ritmo, teve mais dificuldades em travar o aumento de ritmo e de velocidade do jogo portista, surgiram as diferenças entre os dois plantéis, acrescido do impacto dos golos sofridos. Mas nem por isso o Beira-Mar se remeteu à defesa de um resultado que fosse menos expressivo.
Destaque para Wilson Eduardo, Rui Varela, Rui Sampaio, o capitão e veterano Hugo, e o guarda-redes Rui Rego (sem qualquer responsabilidade nos golos sofridos).
Por seu lado, a equipa do FC Porto entrou muito lenta na partida e foi contrariada logo aos seis minutos com a lesão de Ukra. Belluschi passou a extremo-direito, cedendo o seu lugar (no esquema táctico) à entrada de Souza.
E aqui notou-se a primeira debilidade do plantel portista: as alternativas e as opções para as alas – são muito reduzidas ou inexistente (Mariano e Rodriguez estão lesionados, Hulk ausente). O que significa que só “inventando” são encontradas alternativas (Belluschi na direita e, mais tarde, Moutinho na esquerda com a entrada de Ruben Micael). É um dos desequilíbrios deste plantel. O outro sector é o do centro da defesa, agora minimizado (embora não completamente solucionado) com a contratação do internacional argentino Otamendi.
A questão que se coloca é, no decorrer do campeonato, é natural surgiram as lesões e os castigos. Este plantel não tem soluções capazes, nem eficazes.
No resto, o 4x3x3 do FC Porto, nesta segunda jornada, quando provocou aumento do ritmo do jogo, quando Belluschi se adaptou à sua “nova posição”, quando ligou os seus sectores, mostrando a frieza (à moda italiana) de uma segurança e domínio dos princípios do jogo, foi dominador, controlador do jogo e capaz de criar desequilíbrios que construíram várias (cerca de 16) situações de perigo para a baliza de Rui Rego.
O jogo foi tornando-se fácil, com o contributo do Beira-mar e da forma como encarou este jogo.
Não tenho a certeza que, face às circunstâncias do jogo (escassez de alternativas para as alas, falta de ritmo de Varela, e às menos frequentes mas ainda existentes falhas no sector central da defesa) com equipas mais fechadas (que tragam os respectivos ‘autocarros defensivos’) a equipa portista tenha argumentos para superar as barreiras adversárias (o que ficou patente no jogo da primeira jornada, contra a Naval).
Por último, reconheça-se também que o FC Porto vai demonstrando algum crescendo moral e táctico, apoiado no resultados positivos que tem conseguido, com mérito, alcançar neste arranque de época, o que faz desta equipa, para já, o “alvo a abater”.
Quanto ao Beira-Mar, reconheça-se igualmente que o reforço do plantel (mesmo que a conta-gotas), o modelo de jogo que se espera seja idêntico ao longo do campeonato, a identidade que o treinador está a incutir na equipa, tem capacidade para segurar a manutenção e trazer estabilidade ao clube da região de Aveiro.